Menino Relata Perda da Mãe Vítima de Feminicídio: ‘Se Ela Estivesse Viva, Eu Não Estaria Assim’

O Impacto do Feminicídio nas Crianças

“É uma dor que nunca cicatriza e, a cada dia que passa, parece que só sangra mais. A saudade dela é insuportável. Quando vou ao lugar em que ela costumava me receber com tanto carinho e amor, sinto uma tristeza profunda por não vê-la mais. A única coisa que vejo é a lembrança do que aconteceu naquela tragédia. Sinto falta dela, demais”, desabafa uma adolescente que perdeu a mãe em um caso de feminicídio, optando por não se identificar.

A jovem, além de lidar com a perda, também foi vítima de abuso sexual pelo ex-companheiro de sua mãe. Relata que não denunciou o agressor por medo do que poderia ocorrer com sua família. “Fui abusada por cerca de dez anos e, por causa disso, algumas pessoas que não compreendem a situação me criticam, dizendo que eu deveria ter tido coragem de denunciar. Fiz isso para proteger minha mãe e meus irmãos, mas não adiantou, pois ele cometeu a covardia de matar ela”, revela.

Por trás de estatísticas alarmantes sobre feminicídio, existem crianças e adolescentes cujas infâncias foram brutalmente afetadas pela violência. Segundo a psicóloga Renata Costa, a ausência materna altera a maneira como essas crianças veem o mundo, e traumas vivenciados na infância deixam marcas indeléveis. “Essa violência não se encerra com a morte da mulher. Ela continua a reverberar na vida daqueles que ficam, especialmente nas crianças e adolescentes em desenvolvimento. Os efeitos psicossociais nos órfãos do feminicídio são devastadores, e muitas vezes, esses jovens não têm acesso a um suporte adequado em saúde mental”, explica a especialista.

Danilo de Castro Ferreira, procurador-geral de Justiça do Ministério Público do Maranhão, destaca a importância da orientação às famílias afetadas: “Estamos tentando conscientizar as famílias sobre seus direitos, incentivando-as a buscar auxílio por meio do Ministério Público e de advogados associados às universidades com as quais firmamos convênios. Essa é uma forma de melhorar a situação e combater essa crime horrendo que é o feminicídio”. O esforço, segundo ele, é crucial para enfrentar as consequências dessa tragédia social e garantir que as vozes das crianças sejam ouvidas.